O Mistério que nos chega

 

Seu rosto abre o Céu em nossas casas

A encher de visões as ruas desertas:

Pelas folhas da sacada abertas

Repousam felizes as gentis asas

 

Dos anjos arautos da Boa Nova.

Tão longe de minha ermida,

No recesso tão solitário agora,

Está a vida de Deus escondida.

​

Diante dos luminosos pórticos,

Presos aos elos de tensas correntes,

Cerrados, balançam a esmo, exóticos,

Ramos viçosos de palma pendentes.

​

Cinzas frias, outrora quentes brasas

Já consumidas de seus calores

E em cruzes na fronte desenhadas,

Como sinais para aplacar as dores.

 

É Deus

Pai quem nos reveste da Graça:

Saúdam-No mesmo os cravos e flores:

Eles agraciam ao Cristo que passa—

Com suas ignotas e vívidas cores.

 

 

Autor: Albert Gunther